As
eleições estão chegando e com isso aumenta a importância de nossa
participação política. Como estamos em um blog, creio que boa parte da
ação dos leitores daqui ocorrerá nas redes sociais. É um lugar onde
ótimos resultados podem ser colhidos.
Porém,
vemos o advento do MAV e um investimento cada vez maior do PT em
militância virtual custeada com uma baita grana vinda dos aparelhos do
partido.
Seja
lá como for, assim como qualquer organização, eles podem ser vencidos,
principalmente quando suas “receitas” são descobertas. E sabemos que os
petistas do MAV possuem um grande arcabouço de técnicas da guerra
política. Gramsci, Chomsky, Lakoff e Alinsky estão entre seus tutores.
Como
fazemos para reverter o quadro? Uma forma básica envolve conhecermos as
técnicas que eles usam, e, desde que essas técnicas não se digladiem
com nossos princípios morais, utilizá-las, sem moderação.
Muitos
se perguntam: quanto tempo eu preciso para me “transformar” em alguém
apto para a guerra política? Bem, claro que não é algo que ocorre do dia
para a noite, pois mudamos nosso mindset nesse processo. Mas
também não será preciso que você adquira muitos livros. O fato é que
resolvi atender pedidos de vários leitores e criar alguns “tutoriais”
rápidos, de fácil digestão, com foco nesse aprendizado.
Esse
é o objetivo da série “Aperitivos da guerra política”. Espero ao menos
uma vez por semana lançar um novo texto dessa série, com foco no
compartilhamento do máximo possível de conhecimento e dicas de guerra
política com os leitores.
Para
começar, falarei de algumas características básicas do discurso de
alguém que queira participar do debate público. Sempre lembrando que
tomo por princípio que seu adversário principal, para o momento, é a
extrema-esquerda, representada pelo PT, PCdoB e PSOL.
Hora de começar...
Sempre demonstre estar do lado do povo
O
que isso quer dizer? Simplesmente que na política o romance de maior
sucesso é o romance dos oprimidos. Não há outra obra que faça mais
sucesso do que essa. Exatamente por isso a esquerda moldou seu discurso
para atender à este princípio, mesmo que ele sempre estejam mentindo
enquanto fazem isso.
Quer
exemplos de suas propostas direcionadas ao povo? Para começar, podemos
mostrar que o livre mercado em uma democracia liberal ou conservadora
fornece um melhor nível de vida para o cidadão pobre. Em qualquer país
em que a vida do cidadão pobre é mais digna, todos ganham. O sistema da
extrema-esquerda tornou a vida de cidadãos pobres um inferno em países
como Cuba e Venezuela, por exemplo. Explique isso para a audiência. E
quanto à violência? Mostre-se como adepto de ideias como redução da
maioridade penal e demonstre que a turma do PT e PCdoB se opõe a
melhorias como essa. Aí é só lembrar à plateia que as maiores vítimas de
bestas humanas que cometem estupros e latrocínios são cidadãos pobres,
que não tem condições de dirigir carros blindados ou morar em
condomínios fechados.
Nunca se esqueça de mencionar o povo (especialmente o mais humilde) como um beneficiário de suas ideias.
Seja inclusivo e pragmático
Qualquer
proposta que você fizer deve atender a uma boa parte do eleitorado,
muito mais do que apenas às suas convicções. Isso não quer dizer que
você deve fugir de seus princípios, mas entender que elaborar uma
proposta política vai muito além de traduzir seus princípios em frases.
Se fazer política fosse apenas declarar seus princípios, a guerra
política seria uma moleza.
Lembre-se
que a esquerda faz isso para conquistar o poder. Veja quantas das
propostas do PT são uma cópia dos parâmetros do Manifesto Comunista.
Simplesmente nenhuma. Mesmo assim, pouco a pouco, a implementação das
propostas deles vai pendendo a balança para o socialismo.
Isso
ocorre por que eles pensam muito além dos princípios que possuem, mas
em propostas que incluam mais pessoas do que os puristas do lado deles, e
que, na medida do possível, em implementações sucessivas, fazem a
balança ir pendendo para o objetivo final. Fazer isso, em política, é
praticamente uma arte.
Seja combativo e demonstre confiança na vitória
Sempre
demonstre “gana” de vencer, e, muito mais importante do que isso, deixe
bem claro para o público sua confiança na vitória.
Para
quem usa o direitismo depressivo, sei que este é um aspecto
particularmente crítico, mas não podemos ignorar os fatos: ninguém que
não tem compromisso particular com você está interessado em seguir as
ideias políticas de alguém que não confia em sua vitória. Ou mesmo em
sua capacidade de vencer.
Gosto
sempre de lembrar da cena inicial do filme “Resgate do Soldado Ryan”.
Visualize-se por um momento como um soldado naqueles barcos cujas tampas
são abertas em plena Praia de Omaha, na Normandia, enquanto rajas de
metralhadoras nazistas vão em sua direção. Quem você acha que é capaz de
liderar um grupo para uma possibilidade de vitória? Aquele que disser
“vamos para cima desses nazistas” ou aquele que choramingar “vamos todos
rezar e morrer juntos”.
Parece um tanto óbvio que o eleitor não está interessado em dar atenção àquele que busca a última opção.
Demonstre senso de urgência
Demonstrar
senso de urgência significa ser capaz de exprimir a importância da
implementação de suas ideias, o quanto antes. Se formos comparar com o
direitismo depressivo, o resultado da implementação do senso de urgência
é praticamente o oposto. Enquanto o primeiro destrói resultados e faz
praticamente propaganda para o adversário, o segundo motiva as pessoas a
irem para seu lado e, melhor ainda, consegue aumentar seu exército, em
alguns casos.
Esteja do lado da mudança, quase como um guerreiro contra “o que está aí”
A
expressão “mudança” deve ser uma constante em seu discurso, por uma
dinâmica básica: como Schopenhauer muito sabiamente descobriu, a vida
humana é um amealhar de sofrimento, permeados por algumas pitadas de
felicidade. Isso é ainda mais verdadeiro para o cidadão comum.
Muitos
não sabem como vai ser o dia de amanhã, ficam aflitos enquanto os
filhos não voltam para casa de noite e vivem inseguros. É, não é fácil.
Por isso mesmo, quem é enfático ao se exibir como alguém em prol de
mudança tende a ser ouvido com muito mais facilidade.
Seja um provedor de esperança, sem esquecer dos símbolos do medo
Horowitz
disse que a política é definida pela exploração adequada dos símbolos
de medo e esperança. Isso significa apresentar seu oponente como alguém a
ser temido, e aqueles a quem você defende como provedores da esperança
em relação a dias melhores, e também como neutralizadores do motivo para
você ter medo do adversário.
Um
exemplo claro de como os neo-ateus fazem isso brilhantemente (embora
desonestamente) é quando eles afirmam que a espécie humana tende a se
extinguir por causa da religião. Logo, o símbolo “medo” é usado para
apresentar os religiosos como alguém a serem temidos. A partir daí, eles
se posicionam do lado da “ciência” (em oposição aos religiosos, segundo
eles) e dizem que isso poderá criar um mundo próspero. Esta é a tônica
do provedor de esperança que também usa os símbolos do medo.
Dica:
combine ambos. Não use apenas medo, mas também esperança. Isso por que o
uso da simbologia do medo em excesso pode levar ao desânimo e ao
desespero, ou seja, o oposto do objetivo da comunicação política, que
deve ser feita para gerar ação e motivar pessoas a apoiarem sua ideia e
em alguns casos até lutarem ao seu lado.
“Venda” tolerância
“Vender”
tolerância não é o mesmo que ser tolerante. Você pode ser absolutamente
intolerante a ideias inaceitáveis e amorais, mas, ao mesmo tempo,
sempre defender a tolerância.
Mas
como funciona isso, perguntaria o aprendiz político? Simples. Basta que
nos momentos em que você se torna intolerante a ideias abusivas,
demonstre que você está apenas executando um imperativo moral. Mas, ao
mesmo tempo, afirme que seu discurso defende a tolerância, ao contrário
dos seus oponentes.
É
importante ver isso funcionando na prática. Neste blog, por exemplo, eu
sempre uso de tolerância e raramente ofendo os meus adversários
políticos. Mas tenho um imperativo moral de ser intolerante com as
ideias mais abjetas defendidas pela turma do PT e PCdoB, como por
exemplo escravidão e censura.
Minha
tolerância natural durante o debate de ideias não me impede de reagir
ferrenhamente à monstruosidades morais. Ou seja, eu sou intolerante em
relação à monstruosidades morais, executando nesse aspecto apenas a
obrigação de qualquer pessoa moralmente sadia. Mas, no curso de meus
debates, defendo a postura tolerante e denuncio meus adversários quando
são intolerantes e incapazes de dialogar.
Quando possível, seja engraçado/sarcástico
Claro
que essa é uma outra regra a ser usada com moderação, mas quando você
está fazendo piadas e usando de sarcasmo sobre o seu oponente, está
sub-comunicando para a plateia aspectos ridículos do adversário. Daí
basta concluirmos o óbvio: todo mundo que é representado como ridículo
ou digno de riso está perdendo pontos politicamente.
Segundo
Saul Alinsky, o ridículo é a arma mais poderosa do ser humano, pois
quem foi ridicularizado não encontra uma resposta adequada com
facilidade.
Posicione-se acima dos partidos (e lados políticos), e amparado pelos fatos
Parece
que aqui eu estaria entrando em contradição com algo que sempre
defendi: o mito da superação da direita e esquerda. Nada disso. É fato
que não dá para superarmos esquerda e direita, e nem mesmo superar os
partidos.
O
que proponho aqui é bem diferente: demonstrar suas ideias com óbvias,
sendo bem claro ao dizer que elas devem ser aceitas por qualquer pessoa
de bom senso, independentemente de sua posição política. Ou seja, você
fala para todos os cidadãos de boa consciência. Em seguida, basta dizer
que os fatos mostram que você está certo, e os fatos estão acima de
qualquer divergência política.
Tome a democracia como um princípio que não está sob discussão
Sempre,
em toda e qualquer ocasião, apresente a vontade do povo como soberana.
Isso significa usar e abusar da defesa da democracia. E não há motivos
para que você não acredite nisso, além do fato de que historicamente
seus adversários estão relacionadas às ditaduras mais sangrentas da
humanidade.
O
frame “democracia” é poderoso pois comunica à audiência que a opinião
deles vale alguma coisa e nada é imposto. Quer dizer, você diz que os
outros devem aderir à sua ideia não por imposição, mas por que você tem
melhores argumentos e um ideal mais nobre. Mas a partir do momento em
que alguém diz que “não acredita na democracia”, sub-comunica exatamente
o oposto para o eleitor, tornando-se alguém que quer impor suas ideias
sobre os outros.
Alguém
já viu aquele aparelhinho chamado “Radarcan”, usado para espantar
baratas? O discurso proclamando “perda de fé na democracia” funciona
exatamente da mesma forma, só que para espantar eleitores e partidários.
Tenha uma causa (além de metas)
Quem
assistiu o filme “O Mensageiro”, de Kevin Costner, provavelmente se
lembra de uma cena final onde o vilão do filme, o General Bethlehem,
luta contra o personagem do Carteiro, interpretado por Kevin Costner.
Bethlehem diz o seguinte: “Você não luta por nada, você não acredita em
nada...”. No que o Carteiro responde: “Eu acredito nos Estados Unidos da
América!”. É uma cena para levantar a plateia.
Pessoas
que acreditam em um ideal são muito mais bem vistas do que aquelas
apenas focadas em destruir ideais dos outros. Claro que você deve ter
como missão esmagar as ideias ruins de seu oponente, mas sempre
mostrando que há uma causa mais nobre acima de tudo.
Os
esquerdistas dizem lutar por “igualdade”. A direita deveria sempre
mostrar lutar por “liberdade, justiça e igualdade de direitos”.
A
partir disso, você pode (e deve) defender metas, todas elas alinhadas
com essa causa. Por exemplo, a derrubada de uma lei de mídia está
alinhada com a causa da liberdade. Da mesma forma, o fim (ou limitação)
da doutrinação marxista está alinhada com a mesma causa.
Do lado dos mais altos valores morais
Como
uma extensão do ponto anterior, acostume-se a mostrar a diferença moral
entre você e seus oponentes. Acho que esse ponto é um dos mais fáceis: é
muito fácil mostrar que estamos diante de monstros morais, e que nossos
ideais são muito mais elevados que os deles.
Nos
vários itens que trouxe aqui, falei de valores morais, como democracia,
liberdade, compaixão, justiça e assim por diante. Nunca se esqueça de
comunicar isso, sempre que tiver oportunidade. Ao mesmo tempo, mostre
seu adversário como seu oposto nesses valores morais.
Aqui
a regra é similar àquela falando do uso dos símbolos de esperança e
medo. A diferença é que aqui você mostra-se como portador dos mais altos
valores morais, e seu adversário como um dos manifestantes das
profundezas da depravação humana.
P.S.:
A próxima parte dessa série, muito provavelmente na semana que vem,
falará dos principais recursos que você deverá usar, incluindo controle
de frame, uso de frases de efeito, rotulagem e propaganda. Também haverá
uma parte 2 para elementos do discurso básico. Mas deixarei isso um
pouco mais a frente, pois a ideia é exatamente essa: ir servindo
aperitivos, para não empanturrar ninguém. Aqui já existe um tanto do
conteúdo para a prática na interação política nas redes sociais.
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