LULA E OS BISPOS
quarta-feira, 5 de maio de 2010As palavras têm sentido. E, sendo assim, apego-me ao que elas dizem. Mas sabemos que elas podem, muitas vezes, ser mais eloqüentes no que silenciam. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou ontem uma carta aos bispos reunidos em Brasília para a 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). No texto, o presidente lembra a importância do apoio da Igreja Católica aos seus oito anos de governo. E encerra a mensagem pedindo que “o povo brasileiro tenha a luz e a sabedoria para fazer sua escolha quanto à nossa sucessão”. Fez ainda menção à lambança em Brasília, esperando que a reunião da CNBB o 16° Congresso Eucarístico ajudem “na superação da grave crise política e ética que se abate tristemente sobre esta cidade.”
Comovente, sem dúvida! É mais ou menos como um restaurante especializado em junk food saudar um encontro de nutricionistas, expressando a sua preocupação com a baixa qualidade dos alimentos. Embora os padres e bispos se metam muito em política — para o meu gosto, mais do que deveriam —, Lula poderia ter feito uma saudação apenas religiosa. O que as urnas têm a ver com o encontro religioso? Se expressa os votos de que “o povo brasileiro tenha a luz e a sabedoria para fazer sua escolha quanto à nossa sucessão”, isso faz supor — ou melhor: afirma — a existência de possibilidades que não são nem iluminadas nem sábias. Com pouca luz ou no mais absoluto apagão, até agora, só mesmo as respostas da pré-candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff.
Ao povo pode não faltar a luz do juízo, mas certamente falta ao presidente da República que convoca a rede de rádio e televisão para exaltar as próprias glórias, satanizar a oposição e fazer campanha velada para a sua candidata. Ao povo pode não faltar a luz do juízo, mas certamente falta ao presidente que comparece a verdadeiros comícios ilegais de centrais sindicais, financiados com o dinheiro de empresas estatais e do imposto sindical, que Lula manteve ao abrigo de qualquer acompanhamento do TCU porque isso feriria, disse, a autonomia das entidades. Na hora de cobrar o imposto obrigatório, elas são entes paraestatais; na hora de prestar contas, autônomas. Ao povo pode não faltar a luz do juízo para fazer a escolha certa, mas certamente falta ao presidente que tenta transformar a democracia num confronto plebiscitário sobre o passado.
Lula poderia dar a sua contribuição pessoal à iluminação tendo, sim, a sua candidata, mas sem se descuidar de sua posição, que é também a de um magistrado. Em vez disso, não reconhece limites entre propaganda partidária, pronunciamento oficial, publicidade do governo e publicidade de estatais. E isso, definitivamente, não civiliza o processo eleitoral. Ao contrário: brutaliza-o.
Quanto à referência à Brasília, trata-se do esforço permanente para transformar a lambança daquela bandidagem que tomou conta da cidade no símbolo máximo da safadeza política. Lula nunca mandou carta a bispos lastimando os bandidos do mensalão ou os do falso dossiê (os aloprados). Ao contrário: hoje, ele chega a sugerir que os petistas podem ter sido, na verdade, vítimas de conspirações!!! O DEM botou pra fora os vagabundos do caso Arruda. E o que aconteceu com os vagabundos do mensalão e do dossiê? Ora, estão no PT. E com muito prestígio.
Sem essa! Não caio nessa conversa, embora concorde com Lula numa coisa: existe, sim, a chance de uma escolha pouco sábia e no escuro. Quanto ao mais, o presidente que não resolva posar de São Jorge de casa de tolerância.
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