O excesso de zelo da PF em relação ao tiranete Lula
Lula não tem
foro privilegiado e por isso causou estranheza o pedido da PF ao STF
para que autorize a sua inquirição. Aliás, motivos é que não faltam para
o tiranete, enfim, seja ouvido pelas autoridades. As delações premiadas
não mentem. Artigo de Merval Pereira no jornal O Globo:
Na
opinião de muitos juristas, foi um excesso de zelo, uma homenagem a
Lula, a Polícia Federal pedir autorização ao Supremo Tribunal Federal
para inquiri-lo. Quem conduz o inquérito é a Polícia Federal e o
Ministério Público Federal. O fato de estarem envolvidas pessoas que têm
prerrogativa de juízo seria irrelevante nesse caso.
De fato,
na relação que a Polícia Federal enviou ao Supremo para serem ouvidas
não constam pessoas com foro privilegiado, são todas ex-integrantes dos
governos de Dilma e Lula que, ou já não exercem mais funções
ministeriais, como o ex-ministro Gilberto Carvalho, ou nunca tiveram
essa condição, como o presidente da Petrobras José Gabrielli.
O
processo do Lava-Jato corre em Curitiba, sob a jurisdição do juiz Sérgio
Moro, e não há nenhum razão para que o Supremo não dê autorização para
que o ex-presidente Lula seja ouvido pela Polícia Federal ou pelo
Ministério Público. Tudo indica que está havendo um excesso de zelo
quando as investigações se aproximam do ex-presidente e da própria
presidente Dilma Rousseff.
São
diversas as delações premiadas que indicam que as verbas desviadas da
Petrobras foram usadas para financiar as campanhas presidenciais de Lula
em 2006 e de Dilma em 2010 e 2014. A Polícia Federal, no relatório que
encaminhou ao Supremo, alega que a presidente Dilma não pode ser
investigada por questões acontecidas fora de seu atual mandato
presidencial, como tanto o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot e
o ministro do STF Teori Zavascki alegaram num primeiro momento.
Mas
quando as denúncias se referem à campanha do ano passado, já não há
nenhuma dúvida de que as questões levantadas dizem respeito ao mandato
presidencial que era exercido por Dilma a partir de 2011, e, portanto,
são passíveis de apuração.
Quanto a
Lula, não é compreensível que o tesoureiro de sua campanha em 2006, José
de Fillipi Junior, possa ser investigado, e ele não. O tesoureiro da
campanha presidencial do ano passado, o ministro Edinho Silva, tudo
indica foi escolhido para o cargo de ministro da Comunicação Social que
exerce hoje justamente para proteger-se de possíveis investigações.
Um
inquérito já foi aberto sobre sua atuação no Supremo Tribunal Federal
(STF), e as demais investigações o ministro Teori Zavaski tem enviado
para a primeira instância, aos cuidados do juiz Sérgio Moro. O mais
provável é que, depois de consultar o Procurador-Geral da República,
Rodrigo Janot, o pedido da Polícia Federal para ouvir diversas pessoas
ligadas aos governos petistas seja enviado para a jurisdição de Moro, e a
partir daí as investigações começarão.
A mais
recente delação premiada, a do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró,
denuncia que a empreiteira Odebrecht pagou uma quantia de R$ 4 milhões
para a campanha de 2006 do ex-presidente Lula para ser contratada para
fazer a recauchutagem da refinaria de Pasadena, comprada pela Petrobras
por um valor acima do mercado na ocasião.
A
presidente Dilma Rousseff, que presidia o Conselho de Administração que
autorizou a compra, alegou que um relatório falho de Cerveró levou o
Conselho a uma decisão errada. Cerveró insinua que a compra foi feita
com a intenção de aumentar o dinheiro que o PT ganharia para financiar a
campanha presidencial de Lula.
É motivo
mais que suficiente para que Lula, o candidato na ocasião, seja ouvido,
inclusive porque pela legislação eleitoral brasileira, as contas são de
responsabilidade do candidato. Por esse motivo, a presidente Dilma
Rousseff corre o risco de ver sua chapa impugnada pelo Tribunal Superior
Eleitoral devido a irregularidades já detectadas na prestação de
contas.
O vice
Michel Temer, nesse caso, também seria impugnado, o que acarretaria a
convocação de novas eleições. Com seu nome sendo citado nas delações
premiadas de Nestor Cerveró e Fernando Baiano, Michel Temer pode deixar
de ser uma solução para a crise política em que estamos envolvidos.
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