AO SE DIRIGIR À PF, CARDOZO AUMENTA REPERCUSSÃO DO CASO LUÍS CLÁUDIO
Pedro do Coutto
Pressionado principalmente pelo ex-presidente Lula, o ministro Eduardo Cardozo – reportagem de Gabriel Mascarenhas e Bela Megale, Folha de São Paulo de 30, sexta-feira – pediu explicações à Polícia Federal sobre quais as razões que a levaram a intimar Luís Cláudio Lula da Silva, filho do antecessor de Dilma Rousseff, a prestar depoimento sobre tráfico de influência no caso de favorecimento fiscal a montadoras de automóveis. A explicação que vai caber a Leandro Daielo Coimbra, diretor geral da PF, na realidade só vai contribuir para ampliar a repercussão do episódio.
Sim. Porque depois da ação praticada, a Polícia Federal não poderá recuar tampouco apagar os motivos que a levaram a assim agir. E que, de outro lado, o ministro da Justiça cobrar explicações? Não mudará nada. O panorama já se estabeleceu, inclusive de forma bastante crítica. A única pergunta possível não reside na intimação em si, mas ao fato de ter se realizado às 23 horas de terça-feira, 27, aniversário do ex-presidente Lula.
Aliás, um aspecto que tem envolvido o posicionamento de acusados é o fato de contestarem suas convocações, ao invés de se preocuparem com os conteúdos das acusações. Isso de um lado. De outro, o impulso de responsabilizarem a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal, deixando para um plano distante o que deveria ser a revolta contra os acusadores, sejam delatores premiados ou não. Caso típico, por exemplo, do deputado Eduardo Cunha. Volta-se contra Rodrigo Janot e não contra Fernando Baiano. Ora, se Fernando Baiano mentiu, incidiu no crime de calúnia, atribuir falsamente a prática de crime contra alguém. Mas o presidente da Câmara prefere um outro caminho em relação, ao qual falta rumo definido. Mas esta é outra questão.
UM DIA DE CÃO
Ontem, dia 30, não foi um bom dia, nem para o governo, nem para Lula, tampouco para o PT. Basta ler os jornais. A começar pela reportagem de Fernanda Krakovics e Simone Iglésias, O Globo, destacando o pronunciamento de Lula na reunião do Diretório Nacional do PT, n qual afirmou frontalmente que a legenda reelegeu Dilma Rousseff com um discurso diferente daquele que está sendo praticado no segundo mandato. “É um fato”, acrescentou, “que tem deixado muita gente irritada. Vencemos com um discurso e estamos fazendo (o plural é importante) aquilo que dizíamos que não faríamos”.
As declarações não poderiam ser mais contundentes, partidas de quem as colocou. Ressaltou a principal contradição política entre a candidata à reeleição e a presidente que sucedeu a si mesma. Assim agindo, o grande eleitor de 2014 contribuiu amplamente para destacar a principal mutação a envolver Dilma Rousseff em sua permanência no Palácio do Planalto.
E JOAQUIM LEVY?
É verdade que Lula, ontem, passou a defender a permanência de Joaquim Levy, porém tal posicionamento não convence. Não convence porque, ao enfocar especificamente o projeto de ajuste fiscal, Luís Inácio da Silva sustentou que a prioridade zero deve ser a retomada do desenvolvimento econômico. Ora, Lula vinha condenando o ajuste fiscal por ser recessivo. A partir de ontem, defendeu a iniciativa mas vinculada da retomada do crescimento. Uma articulação impossível.
Acrescentou que a situação de Eduardo Cunha deve ser deixada para segundo plano. O importante é bloquear o processo de impeachment.
Mas eu disse que ontem não foi um dia positivo para o governo. Pois é. Some-se a todo esse quadro o aumento do nível do desemprego, objeto de mais uma reportagem da FSP, esta de Bruno Vilas Bôas. Mas este fato comento em outro artigo.
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