Ex-vereador petista diz à polícia que ex-presidente
da Câmara dos Deputados é o verdadeiro dono de apartamento em Miami. O imóvel
foi comprado com dinheiro oriundo das arcas da corrupção
Por: Rodrigo Rangel30/10/2015 às 22:09 - Atualizado em 30/10/2015
às 22
O
petista Marco Maia, ex-presidente da
Câmara, garante que “passou uma temporada” no apartamento do “amigo” por
“empréstimo” e apenas “uma vez”(André
Borges/Folhapress)
As histórias mais comuns de corrupção normalmente
envolvem a parceria de um empresário ganancioso com um político desonesto. O
primeiro é agraciado com contratos públicos milionários. Em troca, distribui
recompensas como malas de dinheiro, carros importados, imóveis de luxo. No
rastro da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal descobriu que um grupo de
petistas montou um esquema de negócios escusos no Ministério do Planejamento. O
padrão era o mesmo do petrolão. Em troca da assinatura de um contrato vultoso,
a empresa repassava parte do valor recebido para o PT. Seguindo o dinheiro, os
policiais e procuradores identificaram quem arrecadava e quem recebia a
propina. Chegaram então a figurões do PT beneficiados pelo dinheiro sujo na
forma de financiamento de campanha eleitoral, presentes e regalias, entre elas
o direito de usufruto de um apartamento em Miami. Chamou a atenção dos
investigadores esse imóvel de alto padrão fincado no belíssimo litoral da
capital hispânica dos EUA, refúgio de fortunas honestas e desonestas.
A história do apartamento em Miami começou a ser
contada em agosto passado, quando a Polícia Federal prendeu Alexandre Romano,
ex-vereador petista de Americana, no interior de São Paulo. Romano atende pelo
apelido de Chambinho. De apenas um contrato milionário dado pelo Ministério do
Planejamento à empresa de informática Consist, foram desviados 50 milhões de
reais. Chambinho cuidava da distribuição da bolada. Como era praxe, João
Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, ficava com fatias gordas. A polícia calcula
que Vaccari tenha recebido do esquema cerca de 10 milhões de reais. Parte considerável
do dinheiro desviado beneficiou também a senadora Gleisi Hoffmann, ex-ministra
da Casa Civil (PT-PR), e o marido dela, Paulo Bernardo, ex-ministro do
Planejamento no governo Dilma. VEJA revelou que a escritura do apartamento em
Miami estava entre o material reunido pelos policiais na apuração do caso
Consist. A revista descobriu ainda que Marco Maia (PT-RS), ex-presidente da
Câmara dos Deputados, passou férias no imóvel hoje sob suspeita. Maia afirmou a
VEJA que, a convite de Chambinho, se hospedou no apartamento por dez dias, mas
"uma única vez".
Depois do depoimento do ex-vereador Chambinho à
polícia, o apartamento de Miami ganhou enorme relevância na investigação. Em
depoimento prestado aos investigadores no curso das negociações para fechar um
acordo de delação premiada, o ex-vereador disse que o apartamento está
registrado em nome de uma empresa aberta por ele na Flórida, mas que Marco Maia
é o verdadeiro dono do imóvel, comprado por 671 000 dólares (2,5 milhões de reais no câmbio da
semana passada). Se se
confirmar a revelação feita aos policiais, além de coletor e distribuidor de
propinas, Chambinho - que tem em seu nome um segundo apartamento no mesmo
condomínio - se prestava ao papel de "laranja" de luxo.
O apartamento sob investigação tem 164 metros
quadrados, fica na South Tower at The Point - e conta com três quartos e dois
banheiros. O prédio faz parte de um condomínio de cinco edifícios situado a
poucos metros da praia e proporciona aos condôminos o uso de uma marina e de um
spa. Os investigadores já tinham indícios de que Chambinho fala a verdade sobre
a propriedade do imóvel em Miami. A polícia sabe, por exemplo, que a decoração
do apartamento que o ex-vereador diz pertencer a Marco Maia foi feita sob
orientação da mulher do deputado. Por decisão do Supremo Tribunal Federal, que
não encontrou conexão do caso Consist com o petrolão, a investigação saiu da
alçada do juiz Sergio Moro, em Curitiba, e agora corre na Justiça Federal de
São Paulo. A parte relativa aos políticos com foro privilegiado será remetida
ao STF, a cujos ministros, em última instância, Marco Maia deverá se explicar.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/um-presente-de-2-milhoes-de-reais
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