sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Paulo Gaiger: companheiro, o que você fez com comigo?

Professor doutor da UFPel, cantor, ator e diretor teatral



ZERO HORA - 06/10/2016 - 05h20min | Atualizada em 07/10/2016 - 09h40min


Sinto um constrangimento, uma vergonha e uma desilusão como alguém que é traído por um grande amigo, uma rasteira que me lança a uma tristeza nunca sentida, a uma sensação de morte prematura dos sonhos, dos projetos de uma condução política ética e justa para este país de históricos ardis miseráveis e enganosos. O poder, quando seduz e muda as ideias, arrasa os jardins possíveis. Não sei, e não quero saber, quando se deu o início da atração da 
cúpula petista pelas manobras, dinheiro e engodos fáceis que marcaram governos precedentes. 
Os privilégios das elites, do Legislativo e do Judiciário somente envergonham o bom senso e o conhecimento de isonomia e de justiça, mas não são exemplos a seguir.

As contas milionárias, as viagens em aviõezinhos das empreiteiras, as palestras superfaturadas, o caixa 2, tuas amizades com a caterva que mal quer este país, as alianças de ocasião com a imbecilidade, meu querido companheiro, que gosto tem? De fel e de deslealdade. Você não sente? Nem vergonha? A sensação de uma faca cravada nas costas que me dói tanto e me deixa sem ação, tua herdeira também recebeu. A escolha, companheiro, foi tua e não minha. Não grite e não chore porque o berro e o choro não são argumentos nem pedidos de perdão. Tua empáfia, arrogância e ingenuidade messiânica de um profeta salvador delirante não te permitem reconhecer os erros.

Eu, então, é que peço perdão aos meus dois filhos e aos meus amigos, porque os fiz acreditar no sonho de um Brasil justo, democrático, solidário e de políticas públicas transparentes e na direção do bem de todos. O campo verde e florido era miragem e nos encontramos em terra salgada e árida. Agora, teus amigos de carteado e assalto estão aí, burlando-se dos sonhadores como eu, sentados no poder, bolando estratégias adocicadas de como manter todos os privilégios e injustiças. Veja que não consegui motivos para ir a Porto Alegre votar, não consegui erguer a bandeira, não tive forças para enfeitar a bicicleta, de cantar e animar amigos e conhecidos. Meu querido companheiro, você me empobreceu, suprimiu minha vontade, assassinou um militante do teu partido, mas não das causas justas. Aqui estou eu em luto e mergulhado em uma tristeza que não ajudei a construir. Companheiro, o que você fez comigo?


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