Após
declaração de procuradora, familiares de vítimas devem entrar na Justiça contra
prefeitura
Tragédia Santa Maria - 27/02/2017 -- 10:26 - Atualização: 10:46
Mirela Marchesan disse que embriaguez de frequentadores
seria uma das causas das mortes.
A associação que representa familiares de vítimas da tragédia da
Boate Kiss deve acionar judicialmente a prefeitura de Santa Maria nesta semana.
O requerimento busca esclarecimentos sobre a declaração da procuradora geral do
município da região central do Estado, Mirela Marchesan, que negou pedido de
indenização ao irmão de uma vítima da Kiss em um caso que tramita no Superior
Tribunal de Justiça (STJ). No texto, a procuradora menciona que a embriaguez de
frequentadores seria uma das causas da morte de
jovens durante o
incêndio.
O presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e
Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Sérgio da Silva, classificou como
“sem noção” a manifestação da procuradora. “Estamos sendo escrachados pelas
autoridades. No laudo do meu filho, a única causa da morte foi cianeto. Não
tinha uma gota de álcool. Aí vem uma pessoa sem noção falar uma besteira
dessas. Como pai, é muito constrangedor. A associação vai entrar com um
processo coletivo contra o município de Santa Maria”, afirmou.
A ação deve ser movida contra o município de Santa Maria. Silva
frisou que também gostaria que a procuradora se retratasse sobre o texto. “Quem
tem responsabilidade sobre isso foi ela. Ela é bem paga e concursada e falou um
absurdo desses, sabendo que depois iria sair na mídia. Eu entraria com uma ação
contra ela, mas a associação entrará contra a prefeitura”, disse.
A reportagem da Rádio Guaíba tentou contato com a procuradora
Mirela Marchezan. Em sua alegação, no texto que tramita no STJ, a representante
da PGM de Santa Maria escreveu:
“Apesar da comoção generalizada e luto coletivo ocorridos com a
tragédia da Boate Kiss, e mesmo podendo parecer insensível mencionar a
possibilidade de ocorrência de culpa das próprias vítimas, não há como ignorar
o fato de que diversas pessoas que estavam em frente ao palco, onde começou o
incêndio, conseguiram sair do local; ao passo que outras tantas, que estavam
muito mais próximas à porta de saída, não abandonaram o recinto. Certamente
diversos fatores contribuíram para esta diferença de condutas e de desfechos,
sendo, um deles, o estado de sobriedade ou embriaguez de cada um dos
frequentadores, fato que deve ser bem analisado em cada caso concreto”,
concluiu.
Pela manhã vc recebe a visita de uma jovem sobrevivente do
Massacre de Santa Maria - KISS, reclamando das sequelas e da dificuldade em
conseguir viver normalmente (ela tinha as mãos e os braços queimados e
dificuldade respiratória)... A tarde fui escrever a réplica de uma ação
indenizatória sobre o caso, e vejo que o ente público demandado, alega que 'os
jovens morreram pq estavam bêbados'... Tenho muito nojo disto! Podres poderes,
putrefos e corporativistas! COMPARTILHEM!
A prefeitura de Santa Maria alega que a defesa foi
realizada ainda na gestão anterior. No último mês de janeiro, quatro anos após
a tragédia, o Executivo foi condenado pelo Tribunal de Justiça (TJ/RS) a pagar
uma indenização de R$ 200 mil aos pais e ao irmão de Ariel Nunes Andreatta, que
morreu no incêndio aos 19 anos. O município ainda pode recorrer da decisão.
O
processo
O processo principal que apura a tragédia foi instruído e
julgado, sendo decidido, no dia 27 de julho do ano passado, que os quatro réus
serão submetidos a júri popular. As defesas recorreram da decisão de primeiro
grau e o recurso está sendo analisado pelo Tribunal. Os réus são os sócios da Kiss
Elissandro Spohr e Mauro Londero Hoffmann e os músicos Marcelo de Jesus dos
Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão. Ao longo do processo, o juiz de Direito
Ulysses Fonseca Louzada ouviu 204 pessoas, entre sobreviventes, testemunhas,
peritos e réus.
Três bombeiros foram levados a julgamento pelo Tribunal de
Justiça Militar do RS, acusados de responsabilidades no incêndio. Um deles foi
condenado a um ano e três meses de reclusão e outro, a um ano. O terceiro foi
absolvido.
Também tramitam na Justiça processos em que quatro pais de
vítimas da tragédia são processados por integrantes do Ministério Público por
calúnia e difamação. Já o Instituto Juntos e famílias recorreram à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos para que agentes públicos que não foram
acusados possam ser novamente investigados.
A
tragédia
Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, a banda que se
apresentava na boate acendeu um artefato pirotécnico que teria atingindo o
teto, dando início ao incêndio. Conforme denúncia do MP, as centelhas entraram
em contato com a espuma altamente inflamável que revestia partes do local,
causando o fogo e a emissão de gases tóxicos. No projeto da Kiss em 2009,
teriam sido apontadas 29 irregularidades.
CORREIO DO POVO
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