quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Leopoldenses enfrentam 12 horas na fila para marcar consulta

São Leopoldo - RS - 26/10/2011 08h12 - Atualizado em 26/10/2011 10h57

Leopoldenses enfrentam 12 horas na fila para marcar consulta

Toda segunda-feira pessoas passam horas para conseguir hora com cardiologista. 

Isabella Belli/ Da Redação

Foto: Tiago da Rosa/GES
Longa espera: moradores passam a noite na fila à espera de uma ficha
Longa espera: moradores passam a noite na fila à espera de uma ficha
 


 São Leopoldo - RS - Domingo, 20 horas, enquanto a maioria da população se preparava para jantar e dormir, o aposentado Odir da Cruz, 63 anos, chegava em frente ao Centro de Saúde Centro/Fião, na Rua Azambuja Fortuna, para passar a noite e garantir uma das 56 fichas (30 para idosos e 26 restantes) que autorizam a marcação de horário com um cardiologista. Preparado para passar pelo menos 12 horas na fila, ele chegou carregando cadeira, cobertor, lanche e até papel higiênico. Tudo para ser o primeiro da fila e conseguir – após duas tentativas frustradas – uma ficha para a consulta de sua mulher que sofre de angina, além de artrose, artrite e osteoporose. “Ela não pode ficar todo esse tempo em pé e nem passar a noite fria aqui. Fico imaginando quem tem problema de saúde e não tem ninguém para fazer isso por ela’’, disse ele, que conseguiu uma consulta para daqui há um mês, tempo médio de consultas até para quem tem convênios particulares. Por três semanas, o Jornal VS acompanhou o drama de pessoas como Odir da Cruz, que passam a noite na fila à espera de uma ficha que começa a ser distribuída às 7 horas. Geralmente, por volta das 6 horas, a fila já tem mais de 150 pessoas. A maioria acaba tendo que retornar outro dia mais cedo para tentar novamente uma ficha. Essa tem sido a rotina no Centro de Saúde Centro/Fião, um dos locais com a maior movimentação de pacientes do Município. Mas a realidade pode mudar ainda neste ano, conforme o secretário de Saúde, Valmor Ruaro. Ele diz que deverá ser implantado um sistema informatizado que agilizará as marcações e que promete terminar com as filas. 

Central de Regulação até final do ano - De acordo com o secretário de Saúde, Valmor Ruaro, até o final deste ano será implantada a Central de Regulação que terá a função de organizar as agendas dos médicos e dos especialistas e ficará no prédio da Unidade Básica de Saúde Materno Infantil, no Centro. “A primeira etapa já foi concluída, que era organizar os processos internos administrativos. A segunda etapa será a implantação da Central’’, contou.
Por meio de um sistema informatizado e online, após a consulta com um clínico-geral, o próprio médico poderá marcar a consulta do paciente com um especialista, caso ele ache necessário. Assim, o paciente já terá em mãos a data, o horário e o local da consulta.
“O agendamento será via central informatizada e o cidadão sairá do atendimento do clínico com o agendamento de especialista realizado, com data e local marcado. Dessa forma, pretendemos diminuir ou eliminar as filas’’, ressaltou o secretário.


Compra e venda de lugares é comum - A prática é proibida, mas há quem preferia pagar por um lugar na fila. Os chamados guardadores de lugar chegam cedo, pegam uma boa posição na fila e depois vendem por cerca de 30 reais. A compra do lugar pode ser feita na hora ou por encomenda, já que ao final da entrega das fichas eles divulgam o serviço para aqueles que não conseguiram fazer a marcação. Segundo um guardador que não quis se identificar, eles chegam por volta das 19 horas de domingo e ficam na fila à espera das pessoas dispostas a pagar pelo lugar.
O guardador não acha que isso seja tirar proveito da situação. “Pelo menos aqui estou ganhando dinheiro honesto’’, contou ele, que carrega uma mochila com tudo que precisa usar durante a noite que fica de plantão. “Fiquei sabendo da fila porque minha tia precisou marcar uma consulta e me contou como funcionava o esquema. Trinta reais por pessoa é um valor bom. Consigo me sustentar no final do mês com este preço’’, ressaltou ele logo depois que a diarista Inês Maria Greaff, 46 anos, havia encomendado seus serviços. “É a segunda vez que venho. Cheguei aqui às 5h45 para conseguir marcar uma consulta para o meu marido que tem angioplastia e não consigo. Vou pagar sim, porque só assim para conseguir. Acho isso um absurdo.’’


Aposentado volta para casa de mãos vazias - Boa parte das pessoas que esperam na fila é idosa e já está com a saúde prejudicada. É o caso de Carlito Ramos, 72, que levou para a fila uma sacola com os remédios que deve tomar. “Tenho um marcapasso e sinto dores no peito. Acho tudo isso um desrespeito com o contribuinte’’, reclamou ele, que chegou ao local às 5h45 e precisou sair uma hora antes de casa, no Santos Dumont. Mesmo estando no meio da fila, Carlito não conseguiu ficha, assim como a dona de casa Eloni Almeida Paim, 53 anos. Por desconhecer a situação, ela entrou na fila um pouco antes das 7 horas, quando as fichas começam a ser distribuídas. “Não sabia que era assim. Já estou conformada que terei que voltar.’’ 

Média de espera - De acordo com a Secretaria de Saúde de São Leopoldo, o tempo de espera entre a marcação e a consulta é variável e depende da especialidade e da preferência pelo profissional e local. No Centro de Saúde da Scharlau, por exemplo, é possível marcar hoje uma consulta com um cardiologista para no máximo até segunda. Enquanto que no Centro/Fião a demora pode chegar há um mês.

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