sexta-feira, 07 de outubro de 2011 | 04:05
Pedro do Coutto
Na edição de domingo de O Globo. Miriam Leitão publicou um artigo contra a corrupção no país, lamentando ao mesmo tempo a impotência da Controladoria Geral da União para combater os personagens que se revezam na trama e o silêncio da União Nacional dos Estudantes, outrora sempre presente nas ruas e praças contra os abusos do poder, sempre pela liberdade, pela democracia, pelo desenvolvimento nacional. A UNE agora não representa os estudantes – acrescentou a jornalista – só o PCdoB.
Nem isso. Até porque o Partido Comunista do Brasil não é mais comunista. Seus representantes, como os deputados Aldo Rebelo e Jandira Feghali, o ministro Orlando Silva, o diretor geral da ANP, Haroldo Lima, nada têm de comunistas. São atores de uma sigla falsa.
Por que sustento isso? Simplesmente porque, para alguém ser de fato comunista, são necessárias três coisas: 1) ser contra a propriedade privada; 2) ser favorável à estatização dos meios de produção, siderurgias, petróleo, energia elétrica, mineração e 3) lutar pela igualdade de todos os salários. Os leitores identificam alguém com tais disposições? Nem eu.Ser comunista da boca para fora é fácil. Empenhar-se por tais idéias é que são elas. Dizer-se comunista mas aceitar a divisão (inevitável) das classes é o mesmo absurdo dos que se dizem cristãos mas assumem posicionamentos totalmente contrários aos princípios de cristianismo. Mendacidade de ambos os lados. Mas esta é outra questão.
Escrevo este artigo à noite de domingo em que o artigo saiu e, por coincidência depois de caminhar pela Avenida Atlântica, com o ex-presidente da UNE, Raimundo Eirado, que a presidiu do final da década de 50 para o início da de 60. Ele se referiu ao artigo de Miriam Leitão e acentuou que a UNE está cooptada pelo poder. Sequer saiu da toca em que se encontra para participar da recente concentração da Cinelândia contra os corruptos e a corrupção. Ignorou. Não é mais a mesma de belas lutas do passado.
Marcante, por exemplo, a passeata de 1942 contra o nazismo, no centro do Rio, que levou à demissão de Filinto Muller da Chefia de Polícia. Getúlio Vargas havia afastado o direitista Francisco Campos do Ministério da Justiça, a quem Filinto estava teoricamente subordinado. Assumiu o chefe de gabinete, um diplomata de 29 anos, Vasco Leitão da Cunha. Filinto havia proibido a passeata, Vasco a autorizou. Muller foi ao Palácio do Catete e levou sua demissão a Vargas. Este a aceitou imediatamente.
A UNE esteve presente na campanha pela Petrobras, pela reforma agrária, contra a ditadura militar implantada em 64. Enfim, foram episódios altos de sua história. Mas essa UNE parece não existir mais. Saiu de cena. A sua voz não está nas ruas do país. Foi estatizada, encontra-se no papel da bela adormecida.
Ainda no domingo, seu atual presidente, Daniel Iliescu, em artigo na Folha de São Paulo, tentou despertá-la. Mas apenas defendeu a ampliação dos recursos federais para a Educação. Realmente, muito pequenos. Este ano somente 67 bilhões de reais num orçamento de 1 trilhão e 966 bilhões. Mas nada falou sobre política, ética, compromisso com a honestidade.
Miriam Leitão assinalou que, diante do silêncio, a UNE parece fazer parte da base política do governo. É verdade. O que configura um duplo erro: tanto do poder executivo quanto da entidade. O do governo, por desprezar a importância da crítica e do contestatório, fundamentais. O da UNE, por aceitar a condição que a desfigura fortemente e faz evaporar sua razão de existir.
Na edição de domingo de O Globo. Miriam Leitão publicou um artigo contra a corrupção no país, lamentando ao mesmo tempo a impotência da Controladoria Geral da União para combater os personagens que se revezam na trama e o silêncio da União Nacional dos Estudantes, outrora sempre presente nas ruas e praças contra os abusos do poder, sempre pela liberdade, pela democracia, pelo desenvolvimento nacional. A UNE agora não representa os estudantes – acrescentou a jornalista – só o PCdoB.
Nem isso. Até porque o Partido Comunista do Brasil não é mais comunista. Seus representantes, como os deputados Aldo Rebelo e Jandira Feghali, o ministro Orlando Silva, o diretor geral da ANP, Haroldo Lima, nada têm de comunistas. São atores de uma sigla falsa.
Por que sustento isso? Simplesmente porque, para alguém ser de fato comunista, são necessárias três coisas: 1) ser contra a propriedade privada; 2) ser favorável à estatização dos meios de produção, siderurgias, petróleo, energia elétrica, mineração e 3) lutar pela igualdade de todos os salários. Os leitores identificam alguém com tais disposições? Nem eu.Ser comunista da boca para fora é fácil. Empenhar-se por tais idéias é que são elas. Dizer-se comunista mas aceitar a divisão (inevitável) das classes é o mesmo absurdo dos que se dizem cristãos mas assumem posicionamentos totalmente contrários aos princípios de cristianismo. Mendacidade de ambos os lados. Mas esta é outra questão.
Escrevo este artigo à noite de domingo em que o artigo saiu e, por coincidência depois de caminhar pela Avenida Atlântica, com o ex-presidente da UNE, Raimundo Eirado, que a presidiu do final da década de 50 para o início da de 60. Ele se referiu ao artigo de Miriam Leitão e acentuou que a UNE está cooptada pelo poder. Sequer saiu da toca em que se encontra para participar da recente concentração da Cinelândia contra os corruptos e a corrupção. Ignorou. Não é mais a mesma de belas lutas do passado.
Marcante, por exemplo, a passeata de 1942 contra o nazismo, no centro do Rio, que levou à demissão de Filinto Muller da Chefia de Polícia. Getúlio Vargas havia afastado o direitista Francisco Campos do Ministério da Justiça, a quem Filinto estava teoricamente subordinado. Assumiu o chefe de gabinete, um diplomata de 29 anos, Vasco Leitão da Cunha. Filinto havia proibido a passeata, Vasco a autorizou. Muller foi ao Palácio do Catete e levou sua demissão a Vargas. Este a aceitou imediatamente.
A UNE esteve presente na campanha pela Petrobras, pela reforma agrária, contra a ditadura militar implantada em 64. Enfim, foram episódios altos de sua história. Mas essa UNE parece não existir mais. Saiu de cena. A sua voz não está nas ruas do país. Foi estatizada, encontra-se no papel da bela adormecida.
Ainda no domingo, seu atual presidente, Daniel Iliescu, em artigo na Folha de São Paulo, tentou despertá-la. Mas apenas defendeu a ampliação dos recursos federais para a Educação. Realmente, muito pequenos. Este ano somente 67 bilhões de reais num orçamento de 1 trilhão e 966 bilhões. Mas nada falou sobre política, ética, compromisso com a honestidade.
Miriam Leitão assinalou que, diante do silêncio, a UNE parece fazer parte da base política do governo. É verdade. O que configura um duplo erro: tanto do poder executivo quanto da entidade. O do governo, por desprezar a importância da crítica e do contestatório, fundamentais. O da UNE, por aceitar a condição que a desfigura fortemente e faz evaporar sua razão de existir.
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