28/03 - General responde a Mirian Leitão
Resposta do General Torres de Melo à carta da jornalista.
À Senhora Jornalista Miriam Leitão
Li o seu artigo "ENQUANTO ISSO", com todo cuidado possível.
Senti, em suas linhas, que a senhora procura mostrar que os
MILITARES BRASILEIROS de HOJE, são bem diferentes dos MILITARES
BRASILEIROS de ONTEM. Penso que esse é o ponto central de sua
tese. Para criar credibilidade nas suas afirmativas, a senhora
escreveu: "houve um tempo em que a interpretação dos
militares brasileiros sobre LEI E ORDEM era rasgar as leis e ferir a
ordem. Hoje em dia, eles demonstram com convicção terem aprendido o que não podem fazer".
Permita-me discordar dessa afirmativa de vez que vejo nela uma
injustiça, pois fiz parte dos MILITARES DE ONTEM e nunca vi os meus
camaradas militares rasgarem leis e ferir a ordem. Nem ontem nem
hoje. Vou demonstrar a minha tese.
No Império, as LEIS E A ORDEM foram rasgadas no Pará, Ceará,
Minas, Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul pelas paixões políticas
da época. AS LEIS E A ORDEM foram restabelecidas pelo Grande
Pacificador do Império, um Militar de Ontem, o Duque de Caxias,
que com sua ação manteve a Unidade Nacional. Não rasgamos as leis
nem ferimos a ordem. Pelo contrário.
Vem a queda do Império e a República. Pelo que sei, e a História
registra, foram políticos que acabaram envolvendo os velhos
Marechais Deodoro e Floriano nas lides políticas. A política dos
governadores criando as oligarquias regionais, não foi obra dos
Militares de Ontem, quando as leis e a ordem foram rasgadas e
feridas pelos donos do Poder, razão maior das revoltas dos
tenentes da década de 20, que sonhavam com um Brasil mais
democrático e justo. Os Militares de Ontem ficaram ao lado da lei e da
Ordem. Lembro à nobre jornalista que foram os civis políticos que
fizeram a revolução de 30, apoiados, contudo, pelos tenentes
revolucionários, menos Prestes, que abraçou o comunismo russo.
Veio a época getuliana, que, aos poucos, foi afastando os
tenentes das decisões políticas. A revolução Paulista não foi
feita pelos Militares de Ontem e sim pelos políticos paulistas
que não aceitavam a ditadura de Vargas. Não foram os Militares de
Ontem que fizeram a revolução de 35 (senão alguns, levados por
civis a se converterem para a ideologia vermelha, mas logo
combatidos e derrotados pelos verdadeiros Militares de Ontem);
nem fizeram a revolta de 38; nem deram o golpe de 37. Penso que a
senhora, dentro de seu espírito de justiça, há de concordar comigo
que foram as velhas raposas GETÚLIO - CHICO CAMPOS - OSWALDO ARANHA e
os chefetes que estavam nos governos dos Estados, que aceitaram o
golpe de 37. Não coloque a culpa nos Militares de Ontem.
Veio a segunda guerra mundial. O Nazismo e o Fascismo tentam
dominar o mundo. Assistimos ao primeiro choque da hipocrisia da
esquerda. A senhora deve ter lido - pois àquela época não seria
nascida -, sobre o acordo da Alemanha e a URSS para dividirem a
pobre Polônia e os sindicatos comunistas do mundo ocidental
fazendo greves contra os seus próprios países a favor da Alemanha
por imposição da URSS e a mudança de posição quando a "Santa
URSS" foi invadida por Hitler. O Brasil ficou em cima de muro até
que nossos navios (35) foram afundados. Era a guerra, a FEB e seu
término. Getúlio - o ditador - caiu e vieram as eleições. As Forças
Armadas foram chamadas a intervir para evitar o pior. Foram os
políticos que pressionaram os Militares de Ontem para manter a
ordem. Não rasgamos as leis nem ferimos a ordem. Chamou-se o
Presidente do Supremo Tribunal Federal para, como Presidente,
governar a transição. Não se impôs MILITAR algum.
O mundo dividiu-se em dois. O lado democrático, chamado pelos
comunistas de imperialistas, e o lado comunista com as suas
ditaduras cruéis e seus celebres julgamentos "democráticos".
Prefiro o primeiro e tenho certeza de que a senhora, também. No
lado ocidental não se tinham os GULAGs.
O período Dutra (ESCOLHIDO PELOS CIVIS E ELEITO PELO VOTO DIRETO
DO POVO) teve seus erros - NUNCA CONTRA A LEI E A ORDEM - e
virtudes como toda obra humana. A colocação do Partido Comunista
na ilegalidade foi uma obra do Congresso Nacional por inabilidade
do próprio Carlos Prestes, que declarou ficar ao lado da URSS e
não do Brasil em caso de guerra entre os dois países. Dutra vivia
com o "livrinho" (a Constituição) na mão, pois os políticos, nas
suas ambições, queriam intervenções em alguns Estados, inclusive
em São Paulo. A senhora deve ter lido isso, pois há vasta
literatura sobre a História daqueles idos.
Novo período de Getúlio Vargas. Ele já não tinha mais o vigor
dos anos trinta. Quem leu CHATÔ, SAMUEL WEINER (a senhora leu?)
sente que os falsos amigos de Getúlio o levaram à desgraça. Os
Militares de Ontem não se envolveram no caso, senão para
investigar os crimes que vinham sendo cometidos sem apuração pela
Polícia; nem rasgaram leis nem feriram a ordem.
Eram os políticos que se digladiavam e procuravam nos colocar
como fiéis da balança. O seu suicídio foi uma tragédia nacional,
mas não foram os Militares de Ontem os responsáveis pela grande
desgraça.
A senhora permita-me ir resumindo para não ficar longo. Veio
Juscelino e as Forças Armadas garantiram a posse, mesmo com
pequenas divergências. Eram os políticos que queriam rasgar as
leis e ferir a ordem e não os Militares de Ontem. Nessa época, há
o segundo grande choque da esquerda. No XX Congresso do Partido
Comunista da URSS (1956) Kruchov coloca a nu a desgraça do
stalinismo na URSS. Os intelectuais esquerdistas ficam sem
rumo.
Juscelino
chega ao fim e seu candidato perde para o senhor Jânio Quadros.
Esperança da vassoura. Desastre total. Não foram os Militares de
Ontem que rasgaram a lei e feriram a ordem. Quem declarou vago o
cargo de Presidente foi o Congresso Nacional. A Nação ficou ao
Deus dará. Ameaça de guerra civil e os políticos tocando fogo no
País e as Forças Armadas divididas pelas paixões políticas,
disseminadas pelas "vivandeiras dos quartéis" como muito bem
alcunhou Castello.
Parlamentarismo, volta ao presidencialismo, aumento das paixões
políticas, Prestes indo até Moscou afirmando que já estavam no
governo, faltando-lhes apenas o Poder. Os militares calados e o
chefe do Estado Maior do Exército (Castello) recomendando que a
cadeia de comando deveria ser mantida de qualquer maneira. A
indisciplina chegando e incentivada dentro dos Quartéis, não
pelos Militares de Ontem e sim pelos políticos de esquerda; e as
vivandeiras tentando colocar o Exército na luta política.
Revoltas
de Polícias Militares, revolta de sargentos em Brasília,
indisciplina na Marinha, comícios da Central e do Automóvel Clube
representavam a desordem e o caos contra a LEI e a ORDEM.
Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto e outros governadores e
políticos (todos civis)incentivavam o povo à revolta. As marchas
com Deus, pela Família e pela Liberdade (promovidas por
mulheres) representavam a angústia do País. Todo esse clima não foi
produzido pelos MILITARES DE ONTEM. Eles, contudo, sempre à escuta
dos apelos do povo, pois ELES são o povo em armas, para garantir
as Leis e a Ordem.
Minas desce. Liderança primeira de civil; era Magalhães Pinto.
Era a contra-revolução que se impunha para evitar que o Brasil
soçobrasse ao comunismo. O governador Miguel Arraes declarava em
Recife, nas vésperas de 31 de março: haverá golpe. Não sabemos se
deles ou nosso. Não vamos ser hipócritas. A senhora, inteligente
como é, deve ter lido muitos livros que reportam a luta
política daquela época (exemplos: A Revolução Impossível de Luis
Mir - Combates nas Trevas de Jacob Gorender - Camaradas de
William Waack - etc) sabe que a esquerda desejava implantar uma
ditadura de esquerda. Quem afirma é Jacob Gorender. Diz ele no seu
livro: "a luta armada começou a ser tentada pela esquerda em 1965
e desfechada em definitiva a partir de 1968". Na há, em nenhuma
parte do mundo, luta armada em que se vão plantar rosas e é por
essa razão que GORENDER afirma: "se quiser compreendê-la na
perspectiva da sua história, A ESQUERDA deve assumir a violência
que praticou". Violência gera violência.
Castello, Costa e Silva, Médici, Geisel e João Figueiredo com
seus erros e virtudes desenvolveram o País. Não vamos perder
tempo com isso. A senhora é uma economista e sabe bem disso. Veio
a ANISTIA. João Figueiredo dando murro na mesa e clamando que
era para todos; e Ulisses não desejando que Brizolla, Arraes e
outros pudessem tomar parte no novo processo eleitoral, para não
lhe disputarem as chances de Poder. João bateu o pé e todos
tiveram direito, pois "lugar de Brasileiro é no Brasil", como dizia. Não
esquecer o terceiro choque sofrido pela a esquerda: Queda do
Muro de Berlim, que até hoje a nossa esquerda não sabe desse fato
histórico.
Diretas já. Sarney, Collor com seu desastre, Itamar, FHC, LULA e
chegamos aos dias atuais. Os Militares de Hoje, silentes, que
não são responsáveis pelas desgraças que vivemos agora, mas
sempre aguardando a voz do Povo. Não houve no passado, nem há,
nos dias de hoje, nenhum militar metido em roubo, compra de voto,
CPI, dólar em cueca, mensalões ou mensalinhos. Não há nenhum
Delúbio, Zé Dirceu, José Genoíno, e que tais. O que já se ouve, o
que se escuta é o povo dizendo: SÓ OS MILITARES PODERÃO SALVAR A
NAÇÃO. Pois àquela época da "ditadura" era que se era feliz e não
se sabia...Mas os Militares de Hoje, como os de Ontem, não querem
ditadura, pois são formados democratas. E irão garantir a Lei e a
Ordem, sempre que preciso.
Os militares não irão às ruas sem o povo ao seu lado. OS
MILITARES DE HOJE SÃO OS MESMOS QUE OS MILITARES DE ONTEM. A
nossa desgraça é que políticos de hoje (olhe os PICARETAS do
Lula!) - as exceções justificando a regra - são ainda piores do
que os de ontem. São sem ética e sem moral, mas também
despudorados. E o Brasil sofrendo, não por conta dos MILITARES, mas de
ALGUNS POLÍTICOS - uma corja de canalhas, que rasgam as leis e
criam as desordens.
Como sei que a senhora é uma democrata, espero que publique esta
carta no local onde a senhora escreve os seus artigos, que os
leio atenta e religiosamente, como se fossem uma Bíblia.
Perfeitos no campo econômico, mas não muitos católicos ou
evangélicos no campo político por uma razão muito simples: quando
parece que a senhora tem o vírus de uma reacionária de esquerda.
Atenciosa e respeitosamente,
GENERAL DE DIVISÃO REFORMADO DO EXÉRCITO FRANCISCO BATISTA TORRES DE MELO.
(Um militar de ontem, que respeita os militares de hoje, que pugnam pela Lei e a Ordem).
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