Grandes empresas apostaram errado no mercado futuro. Por que o governo tem de socorrê-las? O que o governo tem a ver com isso?
Carlos Newton
Alguns
economistas e jornalistas parecem não ter o que fazer. A grande
preocupação deles agora é com as dívidas das megaempresas que fizeram
empréstimos no exterior e com as também megaempresas exportadoras que
apostaram errado no dólar futuro e tomarão prejuízos com a alta da
cotação.
A
escalada na cotação do dólar nas últimas semanas realmente foi
impressionante. A moeda americana avançou 14,81% desde 31 de agosto,
para R$ 1,829 na sexta-feira passada, após bater R$ 1,963 na máxima de
quinta-feira. Pegou desprevenidos alguns exportadores brasileiros mais
expostos ao risco cambial.
Os
balanços de oito das maiores exportadoras mostram que o avanço do
câmbio para uma faixa de R$1,95 a R$ 2,08 cria um risco de perdas
cambiais de R$ 2,15 bilhões para essas companhias. Este valor considera
operações com derivativos cambiais (contratos da moeda no mercado
futuro), dívidas em moeda estrangeira e outras exposições. Num cenário
mais dramático, com a moeda cotada entre R$ 2,40 e R$ 2,50 frente ao
real, o retrato ficaria mais preocupante, com perdas possíveis de R$ 4,2
bilhões.
Surge
aí a inquietante indagação: o que o governo e a equipe econômica têm a
ver com isso? Na verdade, as operações com derivativos cambiais são um
jogo como qualquer outro. Você aposta, por exemplo, se o preço da carne
vai subir ou não, se o dólar vai subir ou não, e assim por diante. É
exatamente como jogar na Bolsa de Valores.
Na
crise financeira de 2008, houve os episódios de Aracruz, Sadia e
Votorantim, que, juntas, perderam R$ 5 bilhões e quase quebraram por
causa de apostas erradas no mercado de derivativos (câmbio no mercado
futuro). Mas quem mandou elas apostarem nesse mercado imponderável? Por
que não preferiram investimentos mais sólidos e garantidos, como os
títulos do próprio governo, que pagam hoje 12% ao ano, nada mal?
Além
disso, por que o governo tem de se preocupar com essas grandes
corporações exportadoras e lutar para fazer descer o dólar, se até o mês
passado fazia exatamente o contrário, comprando dólares sem parar, a
pretexto de salvar essas mesmas empresas exportadoras. Quem entende uma
política econômica como essa, criada para favorecer as grandes empresas e
deixar o povo no esquecimento? É realmente desanimador.
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